sábado, novembro 24

Viva o Calão Português!!

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de 'foda-se!' que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do 'foda-se!'?

O 'foda-se!' aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me.

'Não quer sair comigo?! Então, foda-se!'

'Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! Então, 'foda-se!'

O direito ao 'foda-se!' deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

'Comó caralho', por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que 'comó caralho'? 'Comó caralho' tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.

A Via Láctea tem estrelas comó caralho, o Sol é quente comó caralho, o universo é antigo comó caralho, eu gosto de cerveja comó caralho, entendes? No género do 'comó caralho', mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso 'nem que te fodas!'.

Nem o 'Não, não e não!' é tão pouco eficaz e já sem nenhuma credibilidade 'Não, nem pensar!' o substituem. O 'nem que te fodas!' é irretorquível e liquida o assunto.

Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.

Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo 'Jorginho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!'. O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um 'Puta que pariu!', ou seu correlativo 'Pu-ta-que-o-pa-riu!', falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer 'puta-que-o-pariu!', dito assim, põe-te outra vez nos eixos.

Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso 'vai levar no cu!' E a sua maravilhosa e reforçadora derivação 'vai levar no olho do cu!'

Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: 'Chega! Vai levar no olho do teu cu!'.

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: 'Fodeu-se!'. E a sua derivação, mais avassaladora ainda: 'Já se fodeu!'.

Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa.

Algo assim como quando estás a conduzir bêbedo, sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? 'Já me fodi!'

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!

P.S.: E eu, que raramente digo asneiras, vejo-me a mostrar este mail. Mas Foda-se... puta-que-pariu... é mesmo verdade!!!

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